Por:
Rogério Teixeira Duarte

Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agronomia (FCAV-Unesp), professor da Universidade de Araraquara (Uniara) e integrante do Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citrus (GTACC)
rogerio.tduarte@yahoo.com.br
Humberto Vinicius Vescove
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agronomia (FCAV-Unesp) e integrante do GTACC
vescoveconsultoria@gmail.com

Dentro do ciclo de vida de uma planta cítrica, em termos financeiros, a fase produtiva dos pomares comerciais se apresenta como a de maior importância aos produtores, com relevância, normalmente, a partir dos quatro anos de idade.
A expressão de maior produção de frutos por planta acontece entre seis a 12 anos de idade, em que tais pomares cítricos podem, porventura, manter potencial produtivo por até 20 anos, notoriamente dependente de vários fatores.
Estes podem se caracterizar como intrínsecos, ou seja, relacionados à própria genética, intimamente balizados na relação entre porta-enxerto e copa, mas também aqueles extrínsecos, relacionados a situações de ordem biótica e abiótica, os quais poderão diminuir a vida útil de um pomar comercial.

Estresses

Neste cenário, no que tange as questões relacionadas a estes fatores extrínsecos, uma planta cítrica está submetida a uma série de situações que proporcionam o chamado estresse fisiológico.
Ela é, muitas vezes, acometida pelo ataque de pragas e doenças, mas também por fatores ligados a questões nutricionais, características do solo, manejo do pomar, e também por aqueles relacionados a questões climáticas, normalmente focados em questões voltadas à temperatura e aquelas de ordem hídrica.
Partindo deste pressuposto, uma planta cítrica, que apresenta geneticamente um determinado potencial produtivo, por interferência destes fatores externos, tende a apresentar um menor desempenho fisiológico, de forma a corroborar com menor crescimento e desenvolvimento vegetal, influenciando assim em todo o aparato produtivo.
Isso pode comprometer substancialmente todo o processo envolvido na produção de frutos, e como consequência, levar à redução da produtividade.

Peculiaridades

Em se tratando de um pomar comercial produtivo, existem algumas espécies de cultivares cítricas que apresentam um período de florescimento principal, normalmente a partir da chegada do período chuvoso, que trata de áreas sem irrigação, ou ainda, áreas que apresentam sistema de irrigação, porém, são realizadas lâminas de manutenção até o início das chuvas, direcionadas, nos dias atuais, entre os meses de setembro e outubro.
Além destas, existem algumas espécies que florescem várias vezes ao longo do ano, como é o caso das laranjeiras da variedade pera-rio e também dos limoeiros verdadeiros, cidreiras e da lima-ácida Tahiti.
Uma planta cítrica adulta, em condições adequadas de desenvolvimento, poderá produzir mais de 100.000 flores em determinada safra agrícola, porém, devido a aspectos intrínsecos e extrínsecos, a produção de frutos poderá corresponder a valores entre 0,1 e 15% do total de flores produzidas.
Neste contexto, fatores externos que propiciem o estresse em plantas cítricas durante o período da florada são aqueles que estarão diretamente voltados ao sucesso do pegamento de flores, ou seja, dependendo das condições do sistema em que aquele pomar foi submetido, quanto menor o estresse fisiológico relacionado às plantas cítricas, maior possibilidade de pegamento de florada e vingamento dos frutos.

Metabolismo celular

Estes eventos externos, normalmente relacionados à alta temperatura e irradiância, e também interligados a questões de déficit hídrico, quando direcionados sobre a cultura por um determinado período e intensidade, podem apresentar íntima relação com modificações no metabolismo celular da planta cítrica, intervindo no processo de abertura e fechamento estomático, o que corresponderá à menor eficiência de carboxilação.
Isso porque, a partir do fechamento dos estômatos, haverá redução substancial na absorção de gás carbônico (CO2), e como consequência, todo o processo fotossintético também pode ser prejudicado.
Estas alterações gradativas, dentro do processo bioquímico destas plantas, também poderão intervir no que tange o aporte de assimilados para os diferentes órgãos da planta, e como consequência do desbalanço de carboidratos, poderá culminar na indução ou sinalização para síntese de dois importantes hormônios relacionados à abscisão de flores e frutos, conhecidos por etileno e ácido abscíssico.
Além disso, esta situação a que a planta é submetida pode propiciar a formação de espécies reativas de oxigênio (EROs), daí o nome de estresse oxidativo, em que as plantas sintetizam formas reduzidas de oxigênio, comumente encontradas como radicais superóxidos (O2), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radical hidroxila (OH).
Estes compostos químicos, sintetizados em grande quantidade durante o período de estresse, se acumulam nas células, e em altas concentrações são tóxicos às plantas, culminando em paralisação de diferentes processos metabólicos, desestabilização de membranas, mutações e consequente morte celular.
Desta forma, dependendo da periodicidade e intensidade do evento extremo acometido sobre a cultura cítrica, no que tange a fase de florescimento e formação de frutos, poderá, então, ser observada uma intensa abscisão destas estruturas reprodutivas, haja vista que, para este momento, por questões de sobrevivência, e intimamente regulado por questões da bioquímica celular, a planta cítrica necessita reduzir seu metabolismo, no intuito de economizar energia, para justamente superar o referido momento de estresse.

Nova florada

Após normalização da situação, a planta cítrica tende à retomada de suas atividades fisiológicas, com possibilidade de nova florada, e desta forma, propiciar situações também conhecidas como floradas múltiplas.
Isso pode resultar em maior custo de produção, no que tange a questões de ordem fitossanitária, mas também voltado à logística da propriedade, principalmente no que compete ao processo de colheita, necessitando assim um maior número de reentradas para a retirada de frutos maduros.